sufixos eiro e ista

Sufixos eiro e ista nas palavas

Já parou para pensar nas diferenças e semelhanças entre as palavras formadas com os sufixos eiro e ista? Ambos são do tipo “agentivo”, ou seja, são designados a “pessoas que agem”. Mas se os dois têm a mesma característica, por que há duas formas para dizer a mesma coisa?

Qual a diferença entre os sufixos eiro e ista?

Perceba que todos os eiro têm pouco prestígio em relação aos ista.

Segue uma relação pequeníssima de agentivos pouco valorizados na sociedade:

  • Funkeiro
  • Pedreiro
  • Jardineiro
  • Porteiro
  • Maconheiro
  • Trambiqueiro
  • Macumbeiro
  • Jornaleiro

Agora percebam a diferença dos que têm ista:

  • Dentista
  • Paisagista
  • Passista
  • Especialista
  • Jornalista
  • Estrategista
  • Golpista

As duas listas são bem grandes, mas note-se que a primeira é socialmente menos prestigiada que a segunda. Pensemos num situação “normal na cabeça de cada um”, quem ganha mais pelo serviço, o jardineiro ou o paisagista? Quem tem maior habilidade para enganar, o trambiqueiro ou o golpista? Não quero dizer que jardineiros não são valorizados e que o golpista é bem visto pela sociedade, digo que, para dar maior ou menor relevância, utiliza-se uma ou outra forma, quando algumas são sinônimas (trambiqueiro e golpista, por exemplo) acabam sendo empregadas indiscriminadamente.

As distinções das palavras refletem a sociedade?

A relação entre o jornaleiro e o jornalista é que ambos trabalham com o jornal, mas um trabalha para fazer a notícia o outro trabalha para vender o periódico; o estelionato é praticado por golpistas e trambiqueiros, mas o trambique é “menor” que o golpe, que tende a tomar proporções maiores.

Outras palavras têm esse demérito por questões mais preconceituosas, como o caso de “macumbeiro” tanto no caso do músico que toca macumba, como no caso do religioso, o preconceito não permitiu um “macumbista”, como o caso do “maconhista” ou “funkista”. Ao passo que certas profissões não têm essa perda de prestígio, por exemplo: dentista, economista, ginecologista, projetista…

Algumas palavras tinham um sentido pejorativo, mas, com o passar do tempo, ganharam prestígio. O engenheiro era aquele trabalhava no engenho, ou seja, na maioria das vezes, escravo; quando a Revolução Industrial aumentou a complexidade do engenho elevando ao “cargo” de máquina, o engenheiro e o maquinista passaram a trabalhar no mesmo ambiente. Miranda (1979) trata dessa relação apontando traços característicos de cada processo formador como origem desde o Latim, o nível de formalidade quanto ao processo formador, traço semântico, etc.

Recomendo os textos abaixo, pois contêm mais detalhes e referências sobre o assunto de etimologia dessas palavras tão comuns, mas que são mais complexas do que imaginamos.

SUFIXOS FORMADORES DE PROFISSÕES EM PORTUGUÊS -ISTA X -EIRO – UMA OPOSIÇÃO – Cláudia Assad Alvares (USP)

Nomes de Profissões: Uma oposição sufixal. – Cládia Assad Alvares (2005)

6 comentários em “Sufixos eiro e ista nas palavas

    1. Marco, muito obrigado pela pergunta. Conforme indicação que deixo ao final do artigo, Alvares (2005) estudou esse tema. Segue um trecho que corrobora minhas alegações:

      “Este fato parece enquadrar-se no discurso de Miranda (1979); essa autora afirma que, em nossa cultura, as atividades consideradas de maior prestígio social seriam designadas pelos agentivos em -ista, ao passo que as ocupações menos favorecidas pelo prestígio sócio-cultural, ou até mesmo marginalizadas, seriam designadas pelos agentivos em -eiro.” (ALVARES, 2005, p. 12)

      Se houver sugestão de alguma leitura complementar, pode indicar. Espero ter ajudado. Quaisquer outras dúvidas, pode entrar em contato… responderei assim que possível.
      Um forte abraço!

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