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Pronomes Pessoais Oblíquos Átonos

Os pronomes são, por definição, representações de estruturas nominais, daí a alcunha de “pró-nome”. Em língua portuguesa, há mais de um tipo de pronome e mais de um tipo de função sintática que pode ser desempenhada por eles. Neste artigo, vamos analisar os pronomes pessoais oblíquos átonos e sua alocação na frase.

Quais são os Pronomes Pessoais Oblíquos Átonos?

Vamos fazer uma breve revisão dos Pronomes Pessoais Oblíquos Átonos. São eles:

Esses pronomes têm esse nome gigantesco por atenderem a uma série de características específicas, vejam:

Pronome – Têm o mesmo comportamento de um Nome, isto é, não têm características morfossintáticas tais como as dos Verbos, desinências modo-temporal e número-pessoal, vogal temática, denotação de ação, etc.

Pessoal – Fazem referências a pessoas gramaticais, porém desempenhando função sintática diferente de Sujeito.

Oblíquo – Originalmente, o significado dessa palavra é “inclinado”. Em termos gramaticais, essa classificação abarca os pronomes que desempenham função sintática de Complemento ou Adjunto.

Átono – Essa informação se refere à tonicidade da palavra, ou seja, há palavras tônicas (com entonação reforçada em determinada sílaba) e há palavras átonas (sem entonação reforçada).

A alocação dos pessoais oblíquos átonos na frase com apenas um verbo

“a pronúncia brasileira diversifica da lusitana; daí resulta que a colocação pronominal em nosso falar espontâneo não coincide perfeitamente com a do falar dos portugueses” (Said Ali)

Essa constatação é do início do século XX, reconhecendo que o sistema de colocação pronominal vigente no Brasil é diferente daquele vigente em Portugal. Então eu vou mostrar como a Gramática Tradicional determina que seja feita a colocação dos pronomes pessoais oblíquos átonos, mas isso deve ser observado com mais cuidado em textos, orais ou escritos, mais planejados. As regras aqui apresentadas não são, via de regra, observadas em textos, orais ou escritos, com menor planejamento.

A colocação pronominal pode ser feita em três posições, em relação ao verbo:

Próclise – Antes do verbo.

Mesóclise – Dentro do verbo.

Ênclise – Após o verbo.

Tendo essa informação em consideração, o padrão brasileiro prefere a próclise. Quando digo isso, deve-se considerar que ainda estamos dentro da norma-padrão. A mesóclise, independentemente do tipo de pronome, é evitada até em textos mais planejados, seu uso é muito restrito. A ênclise é frequentemente utilizada para dar a impressão de refinamento ao texto.

Pronomes Pessoais Oblíquos Átonos – Próclise

  • Sempre que houver um advérbio antes do verbo, prefira o pronome entre o verbo e o advérbio.

Exemplo:

“Não pareceu-me correto fazer aquilo” (evitar)

“Não me pareceu correto fazer aquilo” (preferível)

  • Mas se houver alguma pausa antes do advérbio, a posição do pronome é facultativa.

Exemplo:

“Saímos de casa bem cedo, não me pareceu correto fazer aquilo com ela”

“Saímos de casa bem cedo, não pareceu-me correto fazer aquilo com ela”

  • Caso haja pronome interrogativo ou palavra exclamativa, prefira a próclise.

“Quem te disse tal coisa?”

“Quem me dera ter tanto dinheiro assim.”

  • Expressões cristalizadas.

“Te amo!”

Pronomes Pessoais Oblíquos Átonos – Mesóclise

Nos casos em que o verbo está flexionado no futuro do presente ou no futuro do pretérito, prefira a mesóclise.

Exemplo:

“Lançar-me-ei aos mares em busca de novas aventuras”

“Ela contentar-se-ia com algumas moedas”

Obs.: Caso haja palavra atratora, prefira a próclise, ex.: “Depois me lançarei aos mares em busca de novas aventuras” e “Ela não se contentaria com algumas moedas”.

Pronomes Pessoais Oblíquos Átonos – Ênclise

Deve-se evitar a posposição dos pronomes quando o verbo da oração subordinada estiver flexionado.

Exemplo:

“Confesso que isso pareceu-me muito confuso” (evitar)

“Confesso que isso me pareceu muito confuso” (preferível)

A alocação dos pessoais oblíquos átonos na frase com locução verbal

Sabendo como funciona a colocação pronominal em frases com apenas um verbo, mesmo que seja numa oração subordinada, podem ser feitas algumas extrapolações para frases com locução verbal (verbo auxiliar + verbo principal).

Auxiliar + Infinitivo/Gerúndio

Vejam as regras para os casos em que a locução for desse tipo.

Proclítico ao auxiliar:

“Eu lhe quero dizer.”

“Eu o estou observando.”

Enclítico ao auxiliar (ligado por hífen):

“Eu quero-lhe falar.”

“Eu estou-lhe falando.”

Enclítico ao verbo principal (ligado por hífen):

“Eu quero falar-lhe.”

“Eu estou falando-lhe.” (mais raro)

CUIDADO: Nunca deixe um pronome de asinhas soltas entre dois verbos… mas… muito frequentemente os brasileiros preferem a forma enclítica ao auxiliar sem a presença do hífen. Somente deixe o pronome solto, caso o verbo principal esteja em sua forma infinitiva e haja uma preposição “dentro” da locução.

“Eu quero lhe falar.” (evite)

“Começou a lhe falar sobre o que havia visto.”

“Começou a falar-lhe sobre o que havia visto.”

Obs.: Com o infinitivo podem-se contrariar que foi dito sobre as palavras atratoras anteriormente citadas:

“Eu não quero falar-lhe do ocorrido.”
“Espero que não queira falar-me sobre aquele caso.”

Nas construções com o verbo “haver” do tipo “há-se de + infinitivo” ou “há de se + infinitivo”, esta última é mais produtiva que e a primeira, mais comum em Portugal, aparece apenas como reminiscência literária:

“há-se de sofrer”

“hei-vos de falar”

Auxiliar + particípio

Agora vejam as regras para os casos em que a locução for desse tipo.

Não contrariando o que já foi dito anteriormente, o pronome átono pode ser:

Proclítico ao auxiliar:

“Eu lhe tenho falado.”

Enclítico ao auxiliar (ligado por hífen):

“Eu tenho-lhe falado.”

Jamais se pospõe pronome átono a particípio. Há muitos brasileiros que também não unem os pronomes pessoais oblíquos átonos ao verbo auxiliar do mesmo modo que é feito com o infinitivo e o gerúndio.

“Eu tenho lhe falado.”

Posições fixas dos pronomes oblíquos átonos

Todos os casos e exemplos citados estão de acordo com a norma-padrão, há casos fora dessa norma que ainda não foram incorporados pela Gramática Normativa, mas são de uso corrente. A Tradição consagrou dois casos específicos de próclise. Nos casos abaixo, deve-se seguir exatamente essa ordem, não sendo facultada outra posição para os pronomes em questão:

  1. Frases com o gerúndio precedido da preposição em:
    “Ninguém, desde que entrou, em lhe chegando o turno, se conseguirá evadir à saída.” (Rui Barbosa – Oração aos moços)
  2. Nas orações exclamativas e optativas, com o verbo no subjuntivo e sujeito anteposto ao verbo:
    “Bons ventos o levem!”
    “Deus te ajude!”

O uso dos Pronomes oblíquos no Brasil

Todas as informações prestadas até aqui dão conta da Norma-padrão e da Tradição Gramatical. Essas regras devem ser utilizadas em textos mais formais, orais ou escritos. Segue uma explicação do Prof. Martinz de Aguiar** a respeito da maneira peculiar do uso pronominal no Brasil:

“A colocação de pronomes complementos em português não se rege pela fonética, nem é o ritmo, o mesmo binário-ternário, em ambas as modalidades, brasileira e lusitana, que impõe uma colocação aqui, outra ali, não. Ela obedece a um complexo de fatores, fonético (rítmico), lógico, psicológico (estilístico), estético, histórico, que às vezes se entreajudam e às vezes se contrapõem. Numa frase como ele vem-me ver, geral em Portugal, literária no Brasil, o fator lógico deslocou o pronome me do verbo vem, para adjudicá-lo ao verbo ver, por ser ele determinante, objeto direto, do segundo, e não do primeiro. Isto é: deixou a língua falada no Brasil de dizer vem-me ver (fator histórico, por ser mera continuação do esquema geral português), para dizer vem me-ver (escrito sem hífen), que também vigia na língua, ligando-se o pronome ao verbo que o rege (fator lógico). Esta colocação de tal maneira se estabilizou, que pouco se diz vem ver-me e trouxe consequências imprevistas:
1ª) Pôde-se juntar o pronome ao particípio, procliticamente: Aqueles haviam se-corrompido (escrito sem hífen aqui e nos iguais exemplos).
2ª) Pôde-se pôr o pronome depois dos futuros (do presente e do pretérito): Poderá se-reduzir, poderia se-reduzir. Deixando de ligar-se aos futuros, para unir-se ao infinitivo, deixou igualmente de interpor-se-lhe aos elementos constitutivos.
3ª) Em frases como vamos nos-encontrar, deixando o pronome de pospor-se à forma verbal pura, para antepor-se à nominal, deixou igualmente de determinar a dissimilação das sílabas parafônicas, podendo-se então dizer vamo-nos encontrar”

Ver também

Vírgula: principais usos e regras

Análise Sintática: 3 termos importantes

*Said Ali – Gramática Secundária da Língua Portuguesa, 4.ª ed. São Paulo, Melhoramentos.

**Martinz de Aguiar – Notas de Português de Filinto e Odorico. Rio de Janeiro, Org. Simões, 1953, pp. 408-409.

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