Carolina Maria de Jesus assinando seu livro Quarto de Despejo em 1960

Carolina de Jesus – Da favela para o mundo

No dia 14 de março de 1914, nasceu Carolina Maria de Jesus, na cidade de Sacramento/MG. Ela poderia ser personagem de um romance realista ou naturalista. Mulher negra, vinda do interior de Minas Gerais, moradora de uma favela paupérrima e catadora de papéis. Carolina de Jesus é um símbolo que deve ser conhecido e lembrado.

Carolina de Jesus – Histórico

Semianalfabeta, natural da zona rural de Minas Gerais. Carolina de Jesus não chegou a completar os estudos primários, mas tinha gosto pela leitura. Em São Paulo, trabalhou na casa do médico Euryclides de Jesus Zerbini, que a deixava ler os livros de sua biblioteca nos dias de folga.

Com três filhos, João José, José Carlos e Vera Eunice, foi morar na favela do Canindé, nos arredores do estádio da Portuguesa. Sua casa era um barraco de um cômodo e sobrevivia catando e vendendo papel. Nesse cenário que poderia levá-la para caminhos obscuros, ela passou a registrar seu dia a dia nos cadernos que encontrava. Quase vinte cadernos serviram de repositório dessa história tão sofrida e aguerrida.

Essa poderia ser mais uma entre tantas outras histórias perdidas em meio à pobreza e à margem da sociedade. Tudo mudou quando o jornalista Audálio Dantas, do extinto periódico “Folha da Noite”, foi à comunidade coletar histórias para uma reportagem.

Audálio registrou a história de Carolina de Jesus na edição de 9 de maio de 1958. Em 1960, o livro Quarto de Despejo. Diário de Uma Favelada foi publicado e ganhou vários elogios e as prateleiras de livrarias nacionais e estrangeiras.

Como obra de cunho social e de temática presente no cotidiano dos grandes centros urbanos, Quarto de Despejo merece uma revisitação por ser um caso singular no contexto literário brasileiro. Não se limita aos anos 50 ou 60, porque a realidade das mazelas sociais retratada por Carolina em seu diário existiu e existe, e em razão disso é altamente contemporânea. Portanto, não se esgotaram as possibilidades de investigação da obra e o propósito do presente artigo é lançar uma breve luz em um campo de análise novo na obra de Carolina, que se revela como terreno fértil de investigação, ou seja, as articulações entre a linguagem e o trabalho. (Fanin e Vilela, 2014)

Legado

Claro que sua obra não passaria pela história da literatura sem incomodar a direita e a esquerda brasileira. Enquanto o mundo lia suas memórias com perplexidade, alguns críticos de sua obra achavam exagerada a exibição de tamanha pobreza, outros, porém, questionavam sua falta de militância frente às causas sociais.

Em 13 de fevereiro de 1977, uma insuficiência respiratória pôs fim à carreira e à vida de Carolina de Jesus. Só parou de escrever por causa de sua morte. Os livros publicados em vida foram:

  • Quarto de Despejo (1960);
  • Casa de Alvenaria (1961);
  • Pedaços de Fome (1963);
  • Provérbios (1963).

Por conta de sua grande produção, foram lançados seis livros póstumos:

  • Diário de Bitita (1977);
  • Um Brasil para Brasileiros (1982);
  • Meu Estranho Diário (1996);
  • Antologia Pessoal (1996);
  • Onde Estaes Felicidade (2014)
  • Meu sonho é escrever – Contos inéditos e outros escritos (2018).

Se você não tinha ideia da vida e da obra dessa guerreira brasileira, vale pesquisar um pouco mais sobre essa escritora. Carolina de Jesus é uma das principais vozes femininas do século XX na literatura. Sua linguagem não é polida como a de Machado de Assis ou Monteiro Lobato. Ela trata das mazelas do povo brasileiro de forma verdadeira e simples, mas não simplória.

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