Neste artigo, vamos tratar da canção “O meu amor”. Ela faz parte da Ópera do Malandro, um musical escrito por Chico Buarque de Holanda, em 1978, e dirigido por Luís Antônio Martinez Corrêa. Não vou analisar a ópera em si, mas somente essa música. Originalmente foi interpretada por Elba Ramalho e Marieta Severo, mas Maria Bethânia e Alcione Maria Bethânia e Alcione também gravaram essa música, em 2003.
O Meu Amor – Chico Buarque
(Teresinha)
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh’alma se sentir beijada, ai
(Lúcia)
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai
(as duas)
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
(Lúcia)
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai
(Teresinha)
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai
(as duas)
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
O Meu Amor – Interpretação
Esse trecho da Ópera do Malandro pode ser visto no link ao final deste artigo. Nesse diálogo, as personagens Teresinha (Marieta Severo) e Lúcia (Elba Ramalho) disputam um mesmo homem, Max Overseas (Otávio Augusto). Elas começam a discutir sobre quem recebe mais atenção do marido. A bigamia fica em segundo plano, até mesmo esquecida, pois o que importa é o tipo de agrado que cada uma recebe da parte dele. Seguem algumas observações sobre o comportamento de cada uma.
Teresinha
Essa personagem é bem romântica. Ela utiliza expressões como “me deixa louca”, “A minha pele toda fica arrepiada” e ela sente sua alma sendo beijada pelo seu amado. Em sua argumentação, ela descreve o quão carinhoso ele o é para com ela: “De me fazer rodeios/ De me beijar os seios/ Me beijar o ventre”. Ela faz questão de deixar claro que essa relação de amor é caseira, delicada, fogosa… Romântica!
Lúcia
Agora temos uma mulher que faz questão de mostrar como seu marido é selvagem na cama. Ele não tem os mesmos modos descritos pela outra esposa. Seu jeito impetuoso é como o de um ladrão ou de um estuprador, até mesmo de um canibal, mas todo esse comportamento tem o consentimento da amada. Não fica tão claro em seu depoimento que ele seja afeito a carinhos “carinhosos”.
Demais características
Na primeira estrofe cantada por cada uma delas, elas utilizam um pronome relativo que se refere ao “jeito manso” do marido:
“O meu amor/ Tem um jeito manso que é só seu/ E que me deixa louca” (Teresinha)
“O meu amor/ Tem um jeito manso que é só seu/ Que rouba os meus sentidos” (Lúcia)
Depois, ambas recorrem à oração subordinada substantiva completiva nominal:
“O meu amor/ Tem um jeito manso que é só seu/ De me deixar maluca“(Lúcia)
“O meu amor/ Tem um jeito manso que é só seu/ De me fazer rodeios“(Teresinha)
Elas utilizam os mesmos tipos de rimas em estrofes trocadas:
Primeira estrofe cantada por Teresinha: “E que me deixa louca/ Quando me beija a boca/ A minha pele toda fica arrepiada/ E me beija com calma e fundo/ Até minh’alma se sentir beijada, ai”
Segunda estrofe cantada por Lúcia: “De me deixar maluca/ Quando me roça a nuca/ E quase me machuca com a barba malfeita/ E de pousar as coxas entre as minhas coxas/ Quando ele se deita, ai”
Primeira estrofe cantada por Lúcia: “Que rouba os meus sentidos/ Viola os meus ouvidos/ Com tantos segredos lindos e indecentes/ Depois brinca comigo/ Ri do meu umbigo/ E me crava os dentes, ai”
Segunda estrofe cantada por Teresinha: “De me fazer rodeios/ De me beijar os seios/ Me beijar o ventre/ E me deixar em brasa/ Desfruta do meu corpo/ Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai”
Há quem diga que essa música dá mais força para o machismo, pois elas estão discutindo por causa dele. Acho que, nessa música, não há muita intenção de exaltar o “rapaz”. Parece mais aquelas discussões de gente doente:
“Eu tenho dor de dente”
“Eu tenho o ciso careado”
“Mas a minha dor de dente é canal”
“Mas o ciso está incluso”
Essa obra já é complexa isoladamente, o que dirá ao analisá-la comparando-na com o restante da ópera.
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Amei seu blog 🙂 Parabéns!!!
Muito boa sua análise, apenas um comentário, Maria Bethânia e Alcione gravaram essa canção qdo eu era criança, hj tenho mais de 50 anos, então não pode ter sido em 2003.