Você já se pegou lendo um livro, artigo ou história e se perguntou quem está contando a história? O narrador desempenha um papel fundamental na maneira como percebemos e nos envolvemos com um texto. Identificar o narrador é essencial para compreender a perspectiva e o tom da narrativa. Neste artigo, exploraremos as diferentes vozes narrativas e as dicas para identificar quem está por trás das palavras. Aprender a reconhecer o narrador não apenas aprimorará sua compreensão textual, mas também enriquecerá sua apreciação pela arte da escrita.
As Várias Faces do Narrador
Os narradores podem assumir várias formas, e cada uma delas influencia a experiência do leitor. Existem narradores em primeira pessoa, terceira pessoa e até mesmo narradores oniscientes. Vamos analisar cada uma delas:
Narrador em Primeira Pessoa: Nesse caso, o narrador é um personagem da história e usa pronomes como “eu” e “meu” para contar a história. Isso cria uma perspectiva pessoal e subjetiva, permitindo ao leitor mergulhar profundamente nos pensamentos e sentimentos de quem narra a história.
Narrador em Terceira Pessoa: Aqui, o narrador observa os personagens e a trama de fora, usando pronomes como “ele”, “ela” e “eles”. Essa perspectiva é mais objetiva e oferece uma visão mais ampla dos eventos, embora possa não entrar tão profundamente nos pensamentos dos personagens.
Narrador Onisciente: Este tipo de narrador sabe tudo sobre os personagens e eventos, incluindo seus pensamentos e sentimentos. Ele pode mudar de perspectiva e revelar informações ocultas, criando uma visão completa do mundo fictício.
Exemplos de Primeira Pessoa
“Dom Casmurro” – Machado de Assis: Bentinho conta a história em primeira pessoa, revelando seus próprios pensamentos e emoções. Essa abordagem proporciona uma perspectiva íntima de seus sentimentos em relação a Capitu e outros personagens.
“Memórias Póstumas de Brás Cubas” – Machado de Assis: Brás Cubas é o narrador-personagem desta obra, compartilhando suas memórias e observações de forma direta e subjetiva, oferecendo uma visão sarcástica da sociedade brasileira.
“Quincas Borba” – Machado de Assis: Também narrado em primeira pessoa por Rubião, este livro explora a deterioração da mente de um personagem sob a influência de Quincas Borba, oferecendo uma visão profunda de sua psicologia.
“O Guarani” – José de Alencar: A história é narrada por um jovem português chamado Diogo, que relata suas experiências no Brasil colonial, oferecendo uma visão estrangeira da cultura e da paisagem brasileira.
Exemplos de Terceira Pessoa
“Iracema” – José de Alencar: A história é narrada em terceira pessoa, permitindo uma visão objetiva dos eventos que se desenrolam na história de amor entre Martim e Iracema, ambientada no Brasil colonial.
“Vidas Secas” – Graciliano Ramos: Este romance utiliza uma narração em terceira pessoa para contar a história de uma família de retirantes nordestinos, proporcionando uma visão ampla e objetiva de suas lutas e desafios.
“O Cortiço” – Aluísio Azevedo: A narrativa em terceira pessoa destaca a vida e os conflitos dos moradores de um cortiço no Rio de Janeiro, oferecendo uma visão panorâmica da sociedade da época.
“O Quinze” – Rachel de Queiroz: Com um narrador em terceira pessoa, este livro retrata as dificuldades enfrentadas pelo povo nordestino durante a seca de 1915, proporcionando uma visão abrangente dos personagens e do ambiente árido.
Exemplos de Narrador Onisciente
“Grande Sertão: Veredas” – Guimarães Rosa: O narrador onisciente deste romance é conhecido por sua complexidade e profundidade, revelando os pensamentos e sentimentos de vários personagens enquanto narra a história de Riobaldo.
“Memórias de um Sargento de Milícias” – Manuel Antônio de Almeida: Este livro apresenta um narrador onisciente que descreve a vida e as travessuras do malandro Leonardo, oferecendo uma visão completa dos personagens e do ambiente urbano do Rio de Janeiro no século XIX.
“O Alienista” – Machado de Assis: A narrativa é conduzida por um narrador onisciente que explora a mente do protagonista, o Dr. Simão Bacamarte, enquanto ele tenta diagnosticar a loucura em Itaguaí, oferecendo insights profundos nos pensamentos do personagem.
“Macunaíma” – Mário de Andrade: Este livro apresenta um narrador onisciente que segue as aventuras do personagem-título, Macunaíma, enquanto ele atravessa o Brasil, fornecendo uma visão abrangente do folclore e da cultura brasileira.
Dicas para Identificar o Narrador
Agora que entendemos os tipos de narradores, como podemos identificá-los em um texto? Aqui estão algumas dicas úteis:
- Observe os pronomes: Preste atenção aos pronomes usados no texto. Se você encontrar “eu”, “meu” ou “nós”, provavelmente está lidando com um narrador em primeira pessoa. “Ele”, “ela” ou “eles” indicam um narrador em terceira pessoa.
- Analise o acesso aos pensamentos dos personagens: Verifique se o narrador irá revelar os pensamentos internos dos personagens. É provável que seja um narrador onisciente ou em terceira pessoa limitada. Um narrador em primeira pessoa geralmente se concentra nos pensamentos de um único personagem.
- Verifique a objetividade: Avalie se quem narra mantém uma perspectiva neutra e imparcial (terceira pessoa) ou se está profundamente envolvido na história (primeira pessoa).
Identificar o narrador em um texto é essencial para compreender sua estrutura e apreciar plenamente a narrativa. Ao reconhecer as diferentes vozes narrativas e seguir nossas dicas, você se tornará um leitor mais perspicaz e crítico. A próxima vez que se perder em um livro ou artigo, lembre-se de procurar quem está contando a história.