Neste ano, celebramos o aniversário de 50 anos da morte do pastor Martin Luther King Jr. (1929-1968). O reverendo foi um ativista norte-americano que teve papel importantíssimo na luta contra a discriminação racial, tornando-se um dos mais influentes líderes dos movimentos pró-direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Quatro anos antes de ser assassinado, recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1964. Neste artigo, trago um breve resumo de sua biografia e uma análise de parte de seu memorável discurso “I have a dream” (Eu tenho um sonho).
Martin Luther King Jr: Biografia
Martin Luther King Jr. (1929-1968) era formado em Teologia pela Morehouse College e concluiu doutorado em Filosofia pela Universidade de Boston. Atuou como pastor na cidade de Montgomery, no Estado do Alabama, local dos maiores conflitos raciais daquele país. Começou sua luta liderando um movimento contra a segregação nos ônibus. Isso ocorreu após a prisão de Rosa Parks, uma costureira que se recusou a ceder o assento para uma pessoa branca.
De 1954 a 1964, atuou ativamente pela garantia de direitos para a população afro-americana. Em 1964, recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua luta. Ele também serviu de exemplo para os movimentos contra a Guerra do Vietnã. Um tiro pôs fim a uma vida de lutas e de conquistas.
Martin Luther King Jr: I have a dream (Eu tenho um sonho)
Esse é um dos mais famosos e mais empolgantes discursos pró-liberdade. Para não ser enfadonho, apresento alguns trechos, originais e traduzidos, mais os meus comentários sobre tais fragmentos. No final deste artigo estão os links para o discurso completo e para o vídeo completo com o próprio reverendo falando.
Fragmento 1:
“I am happy to join with you today in what will go down in history as the greatest demonstration for freedom in the history of our nation.”
“Estou feliz em me unir a você hoje no que vai ficar na história como a maior demonstração de liberdade na história de nossa nação.”
Martin Luther King Jr. se referiu à Marcha em Washington (March on Washington for Jobs and Freedom), realizada em 28 de agosto de 1963. Estima-se que reuniu cerca de 250.000 pessoas, sendo composta por quase 80% de negros.
Fragmento 2:
“Five score years ago, a great American, in whose symbolic shadow we stand today, signed the Emancipation Proclamation.”
“Há cem anos, um grande americano , em cuja sombra simbólica estamos hoje, assinou a Proclamação da Emancipação.”
Fica evidente a alusão à Declaração de Emancipação, assinada por Abraham Lincoln, em 01 de janeiro de 1863. Luther King alerta para o fato de ainda não haver direitos plenos para os negros e a segregação ainda era uma triste realidade.
Fragmento 3:
“But we refuse to believe that the bank of justice is bankrupt. We refuse to believe that there are insufficient funds in the great vaults of opportunity of this nation. And so, we’ve come to cash this check, a check that will give us upon demand the riches of freedom and the security of justice.”
“Mas nos recusamos a acreditar que o banco da justiça está falido. Nós nos recusamos a acreditar que não há fundos suficientes nos grandes cofres das oportunidades desta nação. E assim, chegamos a descontar esse cheque, um cheque que nos dará, sob demanda, as riquezas da liberdade e a segurança da justiça.”
Nesse ponto, Martin Luther King faz uma metáfora comparando o Governo com um banco. Uma vez que foram dados a todo o povo dos Estados Unidos os direitos de liberdade e felicidade, ele salienta que esses direitos inalienáveis de vida liberdade e felicidade não foram dados apenas aos homens brancos. Brancos e negros receberam esses mesmos direitos por meio da Constituição estadunidense e da Declaração de Independência. Porém, no momento de saldar tal dívida com a população negra, o Governo se mostra incapaz de dar aos negros uma vida digna, liberdade de ir e vir e felicidade (como se tivessem recebido um cheque sem fundos). Trabalho, Segurança e Justiça são os tesouros almejados pela população negra.
Fragmento 4:
“The marvelous new militancy which has engulfed the Negro community must not lead us to a distrust of all white people, for many of our white brothers, as evidenced by their presence here today, have come to realize that their destiny is tied up with our destiny. And they have come to realize that their freedom is inextricably bound to our freedom.”
“A nova militância maravilhosa que envolveu a comunidade negra não deve nos levar a uma desconfiança de todos os brancos, pois muitos de nossos irmãos brancos, como evidenciado por sua presença aqui hoje, perceberam que seu destino está atrelado ao nosso destino. E eles perceberam que sua liberdade está inextricavelmente ligada à nossa liberdade.”
Luther King se mostra veementemente contra a violência física promovida por alguns manifestantes. Ele pretendia uma luta digna e disciplinada, sem que houvesse violência física, sem que a “força física” estivesse acima da “força da alma”. E ele pede que não haja retaliação aos brancos por parte do movimento negro e, como evidenciado no trecho acima, ele aponta que os destinos de brancos e negros estão entrelaçados.
Fragmento 5:
“There are those who are asking the devotees of civil rights, ‘When will you be satisfied?’ We can never be satisfied as long as the Negro is the victim of the unspeakable horrors of police brutality.”
“Há aqueles que estão perguntando aos devotos dos direitos civis: ‘Quando você ficará satisfeito?’ Nunca poderemos ficar satisfeitos enquanto o negro for vítima dos indescritíveis horrores da brutalidade policial.”
Você acha que o “mimimi” só está presente nas discussões atuais? Martin Luther King avisa que muitas pessoas questionam até quando aconteceriam manifestações como aquelas em busca dos direitos civis dos negros. “Quando você ficará satisfeito?” Enquanto houver brutalidade deverá haver luta e resistência, algo que não é muito diferente dos dias atuais, ainda que velada pela mídia internacional.
Fragmento 6:
“I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.”
“Eu tenho um sonho que meus quatro filhos um dia viverão em uma nação onde eles não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.”
Ele deseja que seus filhos e os amigos de seus filhos vivam em uma nação sem preconceito racial, sem que o pré-julgamento aconteça por causa da cor da pele. Se eles tiverem de ser presos, que o sejam por causa de seu caráter não por sua etnia algo não muito diferente do que ocorre no Brasil.
Fragmento 7:
“And when this happens, and when we allow freedom ring, when we let it ring from every village and every hamlet, from every state and every city, we will be able to speed up that day when all of God’s children, black men and white men, Jews and Gentiles, Protestants and Catholics, will be able to join hands and sing in the words of the old Negro spiritual: ‘Free at last! Free at last! Thank God Almighty, we are free at last!'”
“E quando isso acontece, e quando permitimos a liberdade, quando deixamos tocar de todas as aldeias e de todas as vilas, de todos os estados e cidades, poderemos acelerar o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos homens, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir as mãos e cantar nas palavras do velho “Negro spiritual”: ‘Finalmente livre! Finalmente livre! Graças a Deus Todo-Poderoso, finalmente estamos livres!'”
Tentei achar palavras para esse trecho, mas elas não me vêm…
Cinco anos após esse acalorado e entusiasmado discurso, a voz do reverendo Martin Luther King Jr. foi silenciada. Sua vida foi tirada, mas seu legado para todas as nações continua.