Infinitivo

O Infinitivo dos verbos do português

O Infinitivo é a terceira forma verbal, ao lado do Gerúndio e do Particípio, que podemos chamar de Formas Nominais, pois não têm sufixos desinenciais que caracterizem tempo-modo e número-pessoa. Se o Gerúndio pode ser equiparado ao Advérbio e o Particípio ao Adjetivo, o Infinitivo tem comportamento de Substantivo.

Infinitivo – Características Gerais

Reparem na frase a seguir:

“Cientistas descobrem ancestral humano que era capaz de caminhar e escalar”

As palavras caminhar e escalar não apresentam nenhuma marca que determine pessoa, número ou tempo. Esses dois verbos estão em sua forma infinitiva.

A principal característica da forma infinitiva é não ter as desinências modo-temporal e número-pessoal. Há uma marcação indiscutível é a adição do morfema “-r” à Vogal Temática do verbo. As três roupagens mais comuns são “-ar”, “-er” e “-ir”, representando cada uma das três conjugações.

infinitivo

Repare no quadro abaixo como a forma infinitiva do verbo Caminhar* se apresenta em outras línguas neolatinas.

*[caminho + -ar; caminho vem do latim vulgar camminus, de origem céltica]

Ter uma forma específica para o infinitivo não é uma obrigatoriedade para todas as língas. No português, dizemos:

PortuguêsInglês
CaminharTo walk
Eu caminhoI walk
Eu caminheiI walked
Eu caminhareiI will walk

Veremos a seguir as duas formas de apresentação do infinitivo, o infinitivo impessoal e o infinitivo pessoal.

Infinitivo Impessoal

Essa é a forma infinitiva mais comum, sem flexão. Normalmente aparece nos seguintes casos:

1) Quando não expressa um tempo específico, de maneira indeterminada. Nessa forma, assume a plenitude do seu valor nominal, sem se referir a nenhum sujeito:

“Viver é lutar.” (Gonçalves Dias)
“O experimentar é desenganar-se.” (Alexndre Herculano)

2) Quando tem o mesmo sentido de Imperativo:

“Cessar o fogo, paulistas!” (Júlio Ribeiro)
“Andar com isso — bradou Mascarenhas, batendo furioso com o pé na casa — andar com isso!” (Arnaldo Gama)

3) Quando, regido da preposição de, tem sentido passivo e se emprega como complemento de um adjetivo:

“As cadeiras, antigas, pesadas e maciças, eram difíceis de m en ear.” (Rui Barbosa)
“(…) coisas fáceis de perceber.” (Machado de Assis )
“Versos! são bons de ler, mais nada; eu penso assim.” (Machado de Assis)

4) Quando, precedido da preposição a, equivale a um gerúndio que, em locução com um verbo auxiliar, indique modo ou fim .

“Todos no mesmo navio, todos na mesma tempestade, todos no mesmo perigo, e uns a cantar, outros a zombar, outros a orar e chorar?” (Antônio Vieira)

5) Quando se agrega, como verbo principal, a um auxiliar, formando com ele uma unidade semântica.

Auxiliares ModaisAuxiliares Acurativos
PoderIr
SaberPrincipiar a
QuererComeçar a
DeverCostumar
Acabar de
Cessar de
Tornar a

Auxiliares Modais:

Eu desejo saber como chegamos a tal ponto.

Ela pode tomar conta da criança.

Maria deve chegar tarde hoje.

Ele sabe cozinhar como ninguém.

Auxiliares Acurativos:

Vamos sair daqui.

Agora principiou a chover.

A empresa começa a pagar depois da primeira semana de trabalho.

Eu costumo ficar aqui todo dia 15.

A nossa amiga aqui acabou de receber uma justa homenagem.

No mês passado, cessei de trabalhar.

Essa situação tornou a acontecer conosco.

6) Quando seu sujeito é um pronome pessoal átono, que serve concomitantemente de complemento a um dos cinco verbos — ver, ouvir, deixar, fazer e mandar:

“Viu-os partir um herege.” (Frei Luís de Sousa)
“Ela nos recebeu com muita alegria e mandou-nos assentar em umas esteiras.” (Fernão Mendes Pinto)
“Deixai-os morder uns aos outros, que é sinal de Deus se amercear de nós.” (Alexandre Herculano)

Infinitivo Pessoal

O infinitivo pessoal flexionado somente é empregado num só caso: quando tem sujeito próprio, distinto do sujeito da oração principal.

“Vivi o melhor que pude, sem me faltarem amigas…” (Machado de Assis)

“Veio-me à lembrança a notícia lida naquela manhã de estarem fechadas todas as farmácias da cidade.” (Machado de Assis)

“Cerrai a porta, que há aí alguns vizinhos de andares altos, que já murmuram sermos nós ruins gastadores de tempo.”
(Antônio Feliciano de Castilho)

Note que seu uso é obrigatório, ressalvado, é claro, o Item 6 do caso anterior.

Casos de dupla construção

1) Quando o auxiliar estiver afastado do infinitivo:

“Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis aimorés!” (Gonçalves Dias)

*[possas tu… seres…]

“Todas aquelas cenas dispersas e incompletas na memória de Cervantes deviam, animadas por uma grande fantasia de poeta, sublevarem-se-lhe na mente.” (Latino Coelho)

*[deviam… sublevarem-se-lhe…]

O trecho seguinte abona ambas as sintaxes:

“Queres ser mau filho, mau amigo, deixares uma nódoa d’infâmia na tua linhagem?” (Alexandre Herculano)

*[queres ser… deixares…]

2) Quando o sujeito do infinitivo for um substantivo servindo, ao mesmo tempo, de complemento a um dos cinco verbos: ver, ouvir, deixar, fazer e mandar.

a) Com a forma não flexionada:

“O vento tépido, úmido e violento, fazia ramalhar as árvores do jardim. ” (ALEXANDRE HERCULANO)

b) Com a forma flexionada:

“Viu saírem e entrarem mulheres.” (Machado de Assis)

É possível encontrar também uma e outra sintaxe:

“Juntos vimos florescer as primeiras ilusões, e juntos vimos dissiparem-se as últimas.” (Machado de Assis)

3) Quando, apesar de possuir sujeito igual ao da oração principal, houver o “intuito ou necessidade de pormos em evidência o agente da ação.” (Said Ali)

Exemplos:
“Virtude, sem trabalhares e padeceres, não verás tu jamais com teus olhos.” (Manuel Bernardes)
“Foram dous amigos à casa de outro, a fim de passarem as horas de sesta.” (Manuel Bernardes)

A conclusão nos aponta esta verdade: na maioria dos casos, o uso do
infinitivo flexionado ou não flexionado pertence mais ao território da
Estilística do que ao da Gramática. (ROCHA LIMA, 2011, p. 507)

Referência:

Rocha Lima, Carlos Henrique da. Gramática normativa da língua portuguesa / Rocha Lima. 49.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.

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