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Formação de palavras no português

Você já se perguntou sobre como as palavras foram criadas? Outra pergunta que também pode ser feita é se ainda é possível criar palavras. Neste artigo, vamos tratar da maneira como as palavras foram e podem ser criadas na língua portuguesa. Veremos como são as características da formação de palavras por meio da Derivação e da Composição, inclusive como os processos de hibridismo se apresentam na língua portuguesa.

Formação de palavras: Derivação e composição

Podemos colocar como principais diferenças entre Derivação e Composição o seguinte:

Derivação: processo de formação que se utiliza de outras palavras como base, por meio da adição de elementos, no início ou no final, de modo que alteram o sentido da palavra base. Tais elementos se chamam prefixos (colocados no começo da palavra) ou sufixos (colocados no final da palavra). Há quatro possibilidades de formação de palavras por derivação: Prefixal, Sufixal, Parassintética e Regressiva/Deverbal

Composição: processo que recorre à reunião de duas ou mais palavras, ou parte delas, mantendo significação própria, de maneira tal que o novo conjunto traga uma significação nova.

A Formação de Palavras por Derivação Prefixal

A prefixação é o processo de criação de novas palavras que adiciona um elemento no começo da palavra. Os prefixos são morfemas que agregam significado sem alterar drasticamente o sentido da base, mas há casos que essa premissa não ocorre necessariamente.

prefios

A Formação de Palavras por Derivação Sufixal

Olhando para a outra ponta da base lexical temos os Sufixos. Ao contrário do que ocorre com os prefixos, não há novos sentidos adicionados, mas são mostrados desdobramentos do significado original. O sufixo flexional de número, por exemplo, indica a existência de mais de uma “casa” na palavra “casas”. O sufixo “ismo” tem um leque enorme de possibilidades.

sufixos

A Formação de Palavras por Derivação Parassintética

Esse tipo é a ação da prefixação e da sufixação ocorrendo simultaneamente. Sabendo como é o processo de formação por derivação, isto é, que a nova palavra é derivada de uma anterior, a derivação parassintética usa os afixos nas duas pontas da palavra base ao mesmo tempo. O prefixo e o sufixo devem ser adicionados ao mesmo tempo.

DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA

A Formação de Palavras por Derivação Regressiva

Consultando as GT, mesmo as revisadas, como Bechara (2009), vemos que “entre os procedimentos formais temos, assim, a composição e a derivação (prefixal e sufixal)” e, ainda segundo o mesmo autor, “por composição entende-se a junção de dois elementos identificáveis pelo falante numa unidade nova de significado único e constante” (p. 431) A composição, como processo de formação de palavras, se dá a partir de dois elementos “autônomos”: (a) um prefixo mais uma palavra (por prefixação), (b) junção de duas palavras que conservam, cada uma, sua grafia e sua prosódia (por justaposição), ou (c) através de duas palavras com perda da autonomia prosódica de uma delas (por aglutinação), segundo Pereira (1940: 187).

Mattoso Câmara Jr. (1971, 1976 e 1977) chama a atenção, em seus vários escritos, para o fato de, ainda na sua época, não haver uma padronização para determinados conceitos, por exemplo, o conceito de vocábulo. Uma vez que tal termo não estava bem definido, outras associações atribuídas a essa categoria estariam, também, passíveis de tratamento confuso. Mattoso Câmara Jr. (1976: 228) assinala, a respeito do processo de formação por prefixação ou por composição, que a prefixação se baseia nas “partículas” que também funcionam como preposições; naquelas que são variantes das preposições clássicas; e naquelas que só podem existir como prefixos.

Na contramão da proposta de Mattoso Câmara Jr., Freitas (1975) entende que a relação entre os prefixos e alguns tipos de preposição se mostra num ponto de vista diacrônico, apenas. Na descrição sincrônica não haveria algo além de uma mera coincidência na forma, já não teriam mais o caráter preposicional de outrora. Ele conclui essa argumentação afirmando que o prefixo não se sustém como “forma livre”, ao passo que “mantemos na língua, isto sim, formas livres homônimas de certos prefixos” (FREITAS, 1975: 96).

Uma discussão bastante recorrente é se prefixos como elementos como sobre (‘sobretudo’), contra (‘contrapor’), mal (‘mal-humorado’), extra (‘extraclasse’), além (‘além-túmulo’), menos (‘menos-valia) e não (não-agressão) podem figurar na Derivação por Prefixação ao lado de in- (indescritível), des- (desigual), re- (reexibir), bi- (biapoiado), sub- (subnutrido), anti- (anticorrupção), entre outros, por causa da natureza dos primeiros ser diferente da natureza dos últimos, do ponto de vista morfológico.

Os Prefixos e os Sufixos na Formação de Palavras

Alguns dos processos derivacionais, ocorrem pela aposição de um afixo antes ou depois da base, a saber, prefixação (afixo anteposto) e sufixação (afixo posposto). Esses procedimentos apresentam tratamento diferenciado na organização da frase. Sufixos são afixos que se encaixam à direita da base e podem alterar a classe gramatical desta mesma base: uma palavra que recebe um sufixo pode sofrer alteração da categoria gramatical a que pertence, dependendo do elemento encaixado.

Considerar, apenas, a posição de afixação na base é uma análise demasiadamente pobre, pois outras características se mostram mais eficazes para a diferenciar prefixos de sufixos. A posição à esquerda da base não confere “função sintática”, conforme Basilio (1987), traço que ocorre quando aditamos um elemento à direita da palavra tida primitiva. Sufixos são cabeças semânticas e, dessa forma, atribuem à nova palavra um caráter sintático por vezes diferente do da base.

Outro ponto de diferença entre prefixos e sufixos é a atribuição de gênero e número que pode ocorrer na palavra derivada. Prefixos não são alocados no final da palavra, posição, esta, exclusiva das marcas de gênero (masculino/feminino) e número (singular/plural). Uma vez que os sufixos se unem à base na ponta direita, os morfemas citados podem somar-se, mas, em alguns casos, alguns sufixos já trazem em si a noção de gênero, como vemos na Quadro 3: Quadro 3 Vemos que alguns sufixos são, por natureza, característicos de um determinado gênero, mas há outros cujo gênero pode ser flexionado por apresentarem disponibilidade morfológica para tal processo, como é o caso dos exemplos abaixo:
-tor(a): genitor(a)
-ário(a): bibliotecário(a), secretário(a)
-ol(a): espanhol(a)
-astro(a): padrasto, madrasta (houve dissimilação)
-(z)inho(a): mocinho(a), irmãozinho/irmãzinha
-oso(a): bondoso(a), espirituoso(a)
Com base nessas, e noutras características, não há como confundir prefixos com sufixos: quer seja por sua posição, quer seja por sua contribuição morfológica em relação à base.

Conclusão sobre a Formação de Palavras

O estudo da formação de palavras em Língua Portuguesa merece especial atenção por ter mais de uma possibilidade de análise acerca de compreender melhor os componentes da palavra complexa e as informações semânticas pertinentes a cada participante que mais evidenciam-se no resultado após a união.

As descrições tradicionais não dão conta de todas as possibilidades de arranjo das formas aqui descritas, reduzindo-se a dividi-las em duas grandes categorias: Derivação e Composição. Como tais classificações fossem impermeáveis e sem características comuns, o tratamento tradicional não prevê a possibilidade de um continuum entre os processos tidos derivacionais e os processos tidos composicionais.

Há entidades linguísticas, a saber, os radicais clássicos, que se comportam de forma diferenciada por diversos motivos: origem, características estruturais na língua original, configuração morfofonêmica na língua destino, possibilidade de encaixamento numa ou noutra ponta da base, preservação do traço semântico, densidade semântica, entre outros.

As muitas formas de descrição e de abordagens, só reforçam o quão complexo e rico é o processo de formação de novos vocábulos, que, para alguns autores, evidenciam a capacidade de o falante poder criar palavras a partir de estruturas já existentes.

Formação de Palavras – Referências bibliográficas

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