Acho que praticamente todo brasileiro já teve contato em algum nível com a Turma da Mônica. Entre os amiguinhos dessa menina muito esperta, há um menino de cabelo espetado que se acha o rei da rua, ou melhor, o “lei da lua”. Cebolinha é um menino que podemos considerar a personificação do Lambdacismo. Não sabe o que é lambdacismo?
O que é Lambdacismo?
Fazendo referência à letra grega Lambda (λ), que é a representação grafemática do fonema /l/, damos o nome de lambdacismo ao tipo de metaplasmo que altera as palavras que têm /r/ para /l/. Desse modo, as palavras “prato”, “fraco” e “trabalho” seriam ditas *plato, *flaco e *tlabalho. A posição da tônica é mantida e as características fonéticas dos demais fonemas ficam inalterados.
Cebolinha tem como marca registrada a troca de todos os “R” por “L”, não importando qual o ponto de articulação. Isso pode parecer um pouto estranho, já que a vibrante múltipla que há em “prato” tem como mesma região articulatória que a lateral de “platô”. O fato de essas consoantes serem realizadas numa mesma região, mas com pontos de articulação diferentes, facilita a confusão e a troca de um fonema pelo outro.
O caso do Cebolinha é particularmente especial pelo fato de ele trocar todos os “R”, mesmo as vibrantes simples, como em “rato” e “amargo”. Uma das alcunhas que ele atribui a Mônica é “golducha”. Ora, o ponto de articulação do “R” de “gorducha” não deveria permitir a substituição dessa vibrante pela lateral. No artigo Fonema, mostro os pontos de articulação dessas duas consoantes.
Botelho e Leite (2005, p. 10-11) dizem o seguinte:
Conforme observamos, nossa língua está em processo constante de transformação fonética. Algumas das formas surgidas no discurso oral já foram registradas em dicionários de nossa língua, enquanto outras continuam restritas somente a esta modalidade da língua. (…) como a língua está se modificando a cada instante, devemos estudá-la de modo constante, para bem observar suas transformações com ênfase na fonética.
Esse processo é o oposto do Rotacismo, que faz a substituição de um fonema por “r”. A motivação da troca de todo e qualquer “R” pelo “L” feita pelo personagem dos quadrinhos é mais cartunesca que linguística efetivamente. Reparem que “trabalho” e “carro” possuem a mesma lateral alveolar na fala do personagem em questão. Ele não faz distinção entre os tipos de vibrantes ou laterais. A troca dos fonemas confere ao Cebolinha uma individualidade que não se observa em outros personagens da Turma da Mônica, pois todas as crianças daquele gibi falam errado, mas apenas o Cebolinha fala *elado.
Fonte:
BOTELHO, José Mario; LEITE, Isabelle Lins. Metaplasmos contemporâneos–um estudo acercas das atuais transformações fonéticas da Língua Portuguesa. In: II Congresso de Letras da UERJ–São Gonçalo (II CLUERJ-SG). 2005. Disponível em:
https://www.filologia.org.br/cluerj-sg/anais/ii/completos/comunicacoes/isabellelinsleite.pdf Acesso em: 07/05/19
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