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Gramática é o quê?

Ah, a temível Gramática. Há quem diga que ela tem a finalidade de orientar e regular o uso da língua, estabelecendo um padrão de escrita e de fala baseado em critérios variados. Os gramáticos se baseiam nas obras literárias de grandes escritores como ponto de partida para a normatização de estruturas linguísticas. Também são consideradas estruturas que tenham alguma lógica para aquela comunidade de fala. A tradição, calcada nos escritos mais importantes, também é fonte de inspiração para a Gramática, mesmo que seja o ponto de partida para críticas e análises. Muitos gramáticos apelam para o que é considerado “Bom Senso” quando não há explicações plausíveis sobre a existência de certas regras gramaticais.

Pois bem, se a gramática se baseia em bons escritores, o que faz com que autores sejam considerados bons ou maus escritores? Um gramático, ao escrever seu manual, utiliza de frases de autores consagrados na literatura para justificar esta ou aquela recomendação de escrita ou fala.

Lógica é, por definição, a “forma de raciocinar coerente, em que se estabelecem relações de causa e efeito”. Ora, se isso fosse algo tão simples como a Gramática Tradicional propõe, como tratar da Lógica aristotélica, Lógica booliana, Lógica das proposições, Lógica dialética, Lógica difusa, Lógica formal, Lógica fuzzy, Lógica matemática, Lógica material, Lógica modal, Lógica polivalente, Lógica transcendental? (olha que nem mencionei as diversas ramificações de cada uma). De que lógica estamos falando quando dizemos que “se fala assim porque é lógico”?

“O que hoje é tradição um dia já foi novidade” é a fala de Tevye, interpretado por Chaim Topol – Um Violinista no Telhado. Falar/escrever “você” era impensável no século XIII, o que dirá usá-lo como pronome pessoal do caso reto. O problema é que a Gramática Tradicional demora muito a aceitar certos usos da língua. Assim, determinadas formas ficam estigmatizadas e podem levar ao preconceito social. A aceitação de certas expressões linguísticas depende de muito tempo e de pessoas de prestígio na comunidade que usem essas formas.

O que é Bom Senso? Para alguém, uma frase ou palavra pode ser ofensiva, mas para outra, não. Se tentarmos taxar escritores por bom senso, então Almeida Garrett deveria ser crucificado! A escrita de “Viagens na minha terra” é confusa e não tem bom senso (aparente).

Sabemos que essas normas definem a língua-padrão de um povo, a chamada língua culta ou norma culta. A Gramática Tradicional pertence ao campo da Língua (langue), o que não quer dizer que não há uma gramática própria da Fala (parole). Muitas vezes ocorre um distanciamento entre o que se usa efetivamente e o que prescreve a norma-padrão. Imprecisa ou não, existe uma norma-padrão, que deve ser conhecida e aplicada nos momentos certos.

Tipos de Gramática

Podemos analisar a língua, a sua estrutura interna, sob diversas formas. Em alguns casos, a adoção de uma maneira é completamente incompatível com outra, mas não há um tipo de gramática certo ou errado. Vejamos os tipos de Gramáticas:

COMPARADA/COMPARATIVA

Parte da linguística que compara as estruturas morfológicas e fonéticas de línguas diferentes, ou de estágios diferentes de uma mesma língua.

HISTÓRICA

A parte da gramática que trata da evolução histórica dos sistemas de uma língua (fonético, morfológico, gramatical).

DESCRITIVA

Também chamada Gramática expositiva, tem por objetivo a tradição de uma língua em um dado momento (sincrônica). Descrição completa e objetiva de todos os elementos de uma língua em um momento (sincrônica), em qualquer de suas variantes, tais como se apresentam nos enunciados produzidos, numa dessas variantes, por qualquer grupo de seus falantes nativos, sem filtros, críticas, correções etc. provindos de outras variantes possíveis. Ocupa-se da descrição dos fatos da língua, com o objetivo de investigá-los e não de estabelecer o que é certo ou errado. Enfatiza o uso oral da língua e suas variações. Não há certo nem errado. Esse tipo de abordagem, muito frequentemente, passa longe das escolas brasileiras. Normalmente, linguistas que trabalham com variação linguística tendem a se debruçar mais sobre esse tipo de gramática. Há regras que são apreendidas conforme as frequências dos casos.


TRADICIONAL

Era um modelo de estudo dos elementos de uma língua originado no do grego e do latim, e anterior à linguística. Não é raro ver estudiosos associarem esse tipo com a Gramática Normativa.

GERATIVA/GENERATIVA

A famosa Gramática Universal ou Transformacional. Descrição de uma língua segundo um modelo formal de regras fixas e explícitas, capaz de gerar todas as – e somente – frases gramaticais dessa língua. A gramática gerativa, nela considerada também a ideia de transformação da língua de sua estrutura profunda (a noção abstrata do que ela quer exprimir) para sua estrutura superficial (o uso efetivo se seus elementos, em nível de frase – palavras. elementos e estrutura sintática -, para expressá-lo). Na proposta do filólogo Noam Chomsky, a faculdade do homem que permite, em certa fase de seu desenvolvimento mental e o de seu contexto social, adquirir a linguagem materna (a que esteve exposto nos estágios mentais iniciais da vida). Conjunto de princípios universais aos quais se condicionam a forma e o funcionamento de qualquer gramática.

NORMATIVA

Também chamada Gramática Prescritiva, é o estudo dos elementos de uma língua a partir de normas que não podem ser transgredidas, e que determinam o que usar e o que não usar, como e como não usar, estabelecendo com isso um padrão de correção a ser observado no que considerar falar e escrever bem. É aquela que busca a padronização da língua, estabelecendo as normas de como falar e escrever corretamente. Costuma ser utilizada em sala de aula e em livros didáticos.

“estão embutidos nessa concepção de gramática vários modos de
perceber e definir a chamada norma culta que mobilizam argumentos de diferentes
ordens para incluir na norma culta ou excluir dela formas e usos e assim, fundamentar e
exercer seu papel prescritivo”. (TRAVAGLIA, 2006, p. 25)

Esse tipo de posicionamento em relação à língua tem uma função específica e não deve ser desprezada. Em documentos oficiais, comunicações destinadas a um grupo muito grande e que esteja disperso, enunciações que devem perdurar… todos esses contextos fazem com que tenhamos que lançar mão de uma forma padronizada para que a comunicação seja eficiente.

Divisão Básica da Gramática:

  • FONOLOGIA:  Estudo das características linguísticas do sistema de sons de uma língua ou das línguas em geral.
  • MORFOLOGIA: Parte da gramática que descreve os processos de formação e de flexão das palavras
  • SINTAXE: Conjunto de regras que determinam a ordem e as relações das palavras na frase. Essa ordem e as relações das palavras na frase. Estudo da estrutura gramatical das frases. Conjunto de regras sintáticas que caracterizam uma época, escola, autor etc.
  • SEMÂNTICA: Estudo do significado das palavras numa língua, o qual pode ser feito de modo sincrônico ou diacrônico. Estudo da relação dos signos com aquilo que eles significam.
  • LÉXICO: O repertório de palavras de uma língua ou de um texto; VOCABULÁRIO. Conjunto dos lexemas da língua (proposto por Saussure), oposto ao conjunto de vocábulos. Componente da gramática internalizada de um falante que abarca todo o seu conhecimento das palavras (esp. sua pronúncia, significação e emprego numa sentença).

Problemas com Gramática que podem surgir

“Em primeiro lugar, o aluno não vai para a escola para aprender ‘nós pega o peixe’. Isso ele já diz de casa, já é aquilo que nós chamamos de língua familiar, a língua do contexto doméstico.”

Na entrevista concedida a Thais Arbex, do iG – São Paulo, em 2011, o gramático, Dr. Evanildo Cavalcante Bechara disse algo que parece óbvio, mas não é. Segundo o gramático, professor de português não deve ensinar língua familiar. É da alçada da escola ensinar a Norma-padrão, promovendo, assim, ascensão do aluno.

Sabe-se que muitas crianças têm pais analfabetos ou semianalfabetos, muitas das vezes um aluno diz uma frase com uma sintaxe ou fonemas mais marcados e bem diferentes dos demais colegas, sendo alvo de críticas e piadas. Há um esforço, já de muito tempo, para que essa estigmatização seja reprimida e que haja respeito independentemente da fala dos alunos.

Nesse mesmo sentido, o professor deve ensinar a Norma-padrão alegando o seguinte:

“Mas do ponto de vista do professor de português, é como se você dissesse ‘eu vou ensinar o que é correto, mas se você quiser continuar usando o menos correto, você pode continuar’. Então, qual estímulo você dá a esse aluno para ele ascender socialmente? Você está tirando dele o elemento fundamental que funciona na educação: que é o interesse para aprender mais.”

Esse é o dilema dos professores de língua hoje. Bastos (2010, p. 19) chegou à seguinte conclusão:

“Portanto, mais uma vez, o que se percebe é que a idéia de entrelaçar o ensino
de gramática ao contexto, através de construção e de produção de textos, tanto orais
como escritos, no intuito de relacionar a teoria com a prática, não são levados em
conta. A prática do ensino de Gramática exercida por professores do ensino de
Educação básica, ainda tem como função preparar o aluno para se sair bem durante
um exame avaliativo, no qual maior parte das vezes os exercícios se dão em denominar
categorias gramaticais e análise sintática.”

MUITO CUIDADO!!!!!!! NÃO CONFUNDA A “GRAMÁTICA” COM O “COMPÊNDIO GRAMÁTICA”!!!!

Como assim? Simples, muita gente confunde a Gramática com o livro feito por um gramático. A gramática feita por Bechara é uma das diversas formas de organizar os conceitos gramaticais.

Fonte:

“O aluno não vai para a escola para aprender ‘nós pega o peixe’”

TRAVAGLIA, Carlos Luiz. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática. 11. Ed. São Paulo: Cortez, 2006.

BASTOS, L. M. dos S. Conceitos de Gramática e suas abordagens no ensino de língua materna. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Letras – Inglês) – Faculdades Alfredo Nasser. 2010. Disponível em: <http://www.unifan.edu.br/files/pesquisa/CONCEITOS%20DE%20GRAM%C3%81TICA%20E%20SUAS%20ABORDAGENS%20NO%20ENSINO%20DE%20L%C3%8DNGUA%20-%20Lusdalma%20Moreira.pdf>. Acesso em: 18/01/2018.

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